"Poesia & Prosa", por Winola Cunha
Apoiada no frio da janela, esperava. Com o cheiro do gás do fogão circulando ao seu redor, rapidamente acendeu o cigarro.
Nos primeiros tragos, aperta as rugas para enxergar mais longe, aquelas janelinhas amarelas à distância. O fumo se consome lentamente, mais por conta própria do que por conta dela. O vento mordiscava-lhe o rosto cansado, querendo brincar. Seu olhar continuava firme, ainda, embora sem ver muito bem, sem procurar muita coisa.
Mais do que a cidade, ela via lembranças (suas, dos outros?) dançarem diante dos olhos. Sua vida como que refletida nas salas, cozinhas e lavanderias dos prédios compridos ao redor. Vez em quando remoía alguma passagem desagradável ao descer as pálpebras para a calçada. As despedidas.
Aquele ritual silencioso muitas vezes não era exatamente revigorante, mas era a desculpa que encontrava para ficar consigo mesma. Deixava a rotina em standby e ia à área de serviço. Em meio à umidade das roupas no varal e às tralhas que se juntavam no aguardo de alguma disposição, escondia-se.
Já tinha a lista de compras prontinha, bastava descer ao mercado. As roupas estavam no tanque, à espera de seu rito de lavagem. As crianças, na sala, brincavam tão calmamente quanto crianças da sua idade – isto é, com gritos de tranquilidade.
Era uma questão de tempo, então ela eternizava o momento, alongava os segundos, perdendo-se em si mesma naqueles raros minutos de solidão.
Chamam seu nome. Com um pigarro, apaga o cigarro e inicia a máquina.